Morei muitos anos na Europa e um ano (foi até demais!) nos EUA.
O problema dessa perseguição é que a maioria dos brasileiros dá motivo para tal. Sabe aquela "malandragem tupiniquim", onde todo mundo é "otário" e eu sou "esperto"... aquela velha e famosa "Lei de Gerson: 'O importante é levar vantagem em tudo, certo?' "... o jeito de fazer na rua o que se faz em casa, tipo, falar alto, xingar, jogar lixo embaixo da lixeira, cuspir no chão, rir por tudo e por nada... isso é só um "aperitivo" dos motivos que levaram muitos povos estrangeiros a verem-nos com restrições.
Quando mudei para Londres (início dos anos 90), não consegui um emprego pelo simples fato de ser brasileiro. A alegação: "o brasileiro que contratei trabalhou uma semana, recebeu o pagamento e sumiu!"
O que, provavelmente, aconteceu: Na Inglaterra, a maioria dos pagamentos e vencimentos são semanais. Se você é empregado e deseja sair do trabalho, deve comunicar ao seu patrão com uma semana de antecedência, para que ele não fique desfalcado e encontre alguém para substituí-lo tão logo você saia. Pois bem, muitos brasileiros arrumam aqueles trabalhos "chatos" de limpeza (restaurantes, pubs e cinemas) para pagarem algum débito urgente. Após terem em mãos o primeiro pagamento, simplesmente desaparecem. O patrão não sabe o que aconteceu com o sujeito, fica desfalcado no quadro de funcionários... e aí... GENERALIZA!
Depois de tanto "tomarem na cabeça", abriram os olhos e mudaram algumas coisas, dentre as quais, o fato de "segurarem" a primeira semana de pagamento para ser paga juntamente com a última semana trabalhada - claro, desde que o funcionário comunique-o com a antecedência prevista (uma semana). Assim, o cara começa a trabalhar, mas só recebe o primeiro salário no final da segunda semana; aquela primeira semana trabalhada, fica como garantia de que ele não vai dar o "cano" no patrão.
Um outro motivo para tanta perseguição é o "cano institucional": golpes contra instituições financeiras. Agora, somente agora, os bancos ingleses deixaram de ser bobos. Antigamente, o camarada abria uma conta (bastava seu passaporte e uma conta de telefone) sob a alegação de que era para receber fundos provenientes da família já que, teoricamente, ele estava lá para estudar; na realidade, ele trabalhava ilegalmente. Muito bem, o banco lhe dava, logo de cara, um cartão de débito e, pouco tempo depois, um de crédito. O sujeito recebia seu pagamento e ia depositando na conta, fazendo pouca movimentação. O banco começava, então, a enviar-lhe propostas de pequenos empréstimos. Ele as ignorava. Daqui a pouco, fazia parceria com um ou dois amigos mais e começavam a fazer rodízio de folhas de cheques: um depositava na conta do outro, e do outro... e assim, faziam um círculo vicioso... e a movimentação na conta só aumentando.... e o banco enviando mais propostas de empréstimos, com os valores subindo cada vez mais.... e eles ignorando a todas....às vezes, nesse meio tempo, contraíam um empréstimo pequeno que quitavam logo.... contraíam outro um pouco maior que, também, quitavam....
Resumindo: Quando recebiam uma proposta de empréstimo bem vultosa, aceitavam-na, pegavam a grana num dia e no dia seguinte estavam chegando ao Brasil, ostentando um dinheiro ganho "à custa de muito suor, naquele lugar frio, de gente fria"... e todos o tendo como um exemplo de um batalhador...
Será que dá prá ter uma idéia da causa da perseguição que os brasileiros sofrem? Claro, muitos e muitos dos brasileiros que vão lá para fora "ralam", legal ou ilegalmente, mas são de boa índole; mas como mau-caratismo não vem escrito na testa, os estrangeiros rotulam brasileiros como "farinha do mesmo saco"!